segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"Esse estranho século XX"

"É extraordinário quanto eu sinto falta de Alberto...
Estou sempre me virando para lhe dizer algo, e então percebo que ele não está mais comigo...
Caracas estende-se por longo e estreito vale, que a confina e limita lateralmente, de maneira que não se pode ir muito longe sem ter de subir os montes que a circundam. Ali, com a cidade agitada sob seus pés, pode-se perceber uma nova característica de sua feição heterogénea. Os negros, aqueles exemplos magníficos da raça africana que conservaram sua pureza racial por não possuírem afinidade alguma com qualquer tipo de miscigenação, viram o seu espaço ser invadido por um novo tipo de escravo: o português. E assim, as duas antigas raças agora dividem uma experiência comum, repleta de disputas e querelas. A discriminação e a pobreza as unem na batalha diária pela sobrevivência, mas suas diferentes atitudes com relação à vida as separam completamente: o negro é indolente e perdulário, gasta seu dinheiro com frivolidades e bebida; o europeu tem uma tradição de trabalho e economia que o acompanha até este canto da América e o empurra para a frente, independentemente de suas próprias aspirações individuais"*


* Caracas, Setembro de 1952, Ernesto Guevara, De moto pela América do Sul...

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