segunda-feira, 21 de março de 2011

E porque hoje é Dia Mundial da Poesia, e porque é tão actual, aqui deixo umas quadras do Aleixo, o tal que era semi-analfabeto.

Descreio dos que me apontem
uma sociedade sã:
isto é hoje o que foi ontem
e o que há-de ser amanhã.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu´rer um mundo novo a sério.

Depois de tanta desordem,
depois de tam dura prova,
deve vir a nova ordem,
se vier a ordem nova.

Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande
façam das mil pequeninas
uma só doutrina grande.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão, mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?

terça-feira, 8 de março de 2011

Inusitada simplicidade...


Ontem, trouxeste me de volta o choro de menina... aquele choro convulsivo, soluçado, sentido de que já não me lembrava...
Causaste-me uma tristeza daquelas que apagam e acordam a alma, ao mesmo tempo... que nos abanam e nos fazem ver que, apesar da temperatura morna dos dias, ainda sentimos... Deste-me vontade de te bater, de te magoar mais ainda, de te apagar da minha vida e fazer de conta que nunca te conheci...

Causaste-me vergonha quando, inesperadamente, fizeste de mim menina, me tomaste no colo e apaziguaste o meu choro soluçado e sufocado... Estranhei-te quando, ao pedires desculpa, me despiste das minhas armas e de toda a predisposição que tinha para reclamar a minha razão...

Estranhei-me por, desta vez, ser eu a menina e por me teres calado as palavras...


sexta-feira, 4 de março de 2011

A Revolução de que (Já) Ninguém Fala

«Não era possível fazer nada, mas os jovens encontraram estranhos caminhos. Captaram sinais invisíveis como os místicos sufis. Puxaram pelos galões de sete mil anos de civilização. Misturaram o melhor de todos os mundos. Ouviram Umm Kulthum cantar Blowing in the wind no deserto. Ergueram a sua própria Sierra Maestra no ciberespaço. Criaram um delta de comunicação, capilar, fresco e fecundo. E venceram. A sua exigência era a mais simples de todas e por isso a mais difícil: a liberdade.
"O que está a acontecer aqui é uma coisa única", diz Farah Faouni, a sacerdotisa de olhos negros. "Talvez o mundo mude depois disto", grita ela sobrepondo-se às buzinas dos carros que enchem todas as ruas do Cairo, em filas intermináveis, com música no máximo, raparigas sentadas nas janelas, cantando e agitando bandeiras. A cidade, vista da ponte 6 de Outubro, parece agora outra, envolta numa névoa brilhante. Tudo está diferente do que era ontem. Talvez este seja um daqueles raros momentos em os que seres humanos se olham uns aos outros e vêem seres humanos. Sente-se que alguma coisa decisiva está a acontecer. Até o Nilo se revolveu no seu leito sagrado. A Esfinge olhou, desconfiada, a pirâmide de Kéops rangeu nos pedregulhos. Os jovens do Egipto exigiram o impossível. E venceram.»

Paulo Moura

Para Ver!



Blue Valentine - Derek Cianfrance

Já Visto!



Somewhere - Sofia Coppola

terça-feira, 1 de março de 2011